domingo, 24 de outubro de 2010
SUPERBACTÉRIA - ATENÇÃO, O CONHECIMENTO É IMPORTANTE PARA PREVENÇÃO
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determinou que hospitais e laboratórios terão 30 dias para atenderem as novas regras de combate à superbactéria KPC.
Apenas em Brasília, 130 pessoas foram contaminadas neste ano e 18 morreram. A bactéria está presente no organismo de todas as pessoas, mas é possível que algumas tenham perdido a resistência porque tomaram antibióticos em excesso.
Agora, a venda de antibióticos só pode ser feita com receita médica, que ficará retida pela farmácia. Os hospitais e postos de saúde estão obrigados a ter álcool em gel disponível da recepção à UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). Além disso, todas as unidades de saúde devem comunicar imediatamente à Anvisa os casos de infecção por bactérias super resistentes.
Quatro casos de contaminação pela bactéria Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC) foram confirmados em Pernambuco, na tarde de ontem. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), os quatro casos foram registrados em dois hospitais do Estado, sendo um privado em um público. Três deles estão internados em UTI, porém com sinais vitais estáveis, enquanto outro teve alta da Terapia Intensiva e se recupera em um quarto isolado do hospital. Conforme orientação da Anvisa, todos estão isolados e sendo tratados por equipe exclusiva, reduzindo ao máximo o risco de transmissão.
Dos quatro casos, três estão em uma unidade privada depois de sofrerem acidente vascular cerebral (AVC). São três homens, com idade de 46, 75 e 80 anos. Dois estão na UTI da unidade e desenvolveram a infecção. O terceiro foi apenas colonizado pela bactéria, sem apresentar quadro infeccioso. Como seu quadro teve sensível melhora, teve alta da UTI e se recupera em apartamento exclusivo.
No hospital da rede pública, foi confirmado um caso em um homem de 64 anos. Ele deu entrada na UTI da unidade em 15 de setembro, também com quadro de AVC, apresentando sequelas neurológicas. O paciente desenvolveu infecção, nas vias respiratórias, mas se recupera bem e não respira mais com a ajuda de aparelhos de ventilação mecânica.
Esses são os primeiros casos oficialmente confirmados de KPC em Pernambuco. Houve um caso em 2005, em um hospital privado, porém ele não foi notificado às autoridades sanitárias de Pernambuco. O conhecimento do caso se deu através de um artigo científico;
A Secretaria de Saúde da Paraíba registrou 18 casos da superbactéria KPC desde abril de 2009. O órgão informou que todas as notificações foram feitas pelo Hospital Universitário, em João Pessoa, mas que ainda não foi feito levantamento de mortes.
As secretarias de Saúde do Rio Grande do Norte, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Alagoas, Maranhão, Pará, Amazonas, Pernambuco, Tocantins, Acre, Roraima, Piauí e Sergipe não registraram casos da superbactéria.
São Paulo
A Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo afirmou, nesta quinta-feira, que não foi registrado até o momento nenhum surto da superbactéria no estado. A pasta diz não saber, no entanto, se há casos isolados nos hospitais, já que não há uma notificação compulsória.
As assessorias dos hospitais Sírio-Libanês e São Camilo informaram que nenhum caso foi registrado nas unidades até esta sexta-feira. No Hospital Albert Einstein, também não houve novos casos. Na quarta-feira (20), o infectologista Luis Fernando Aranha Camargo disse que o Einstein começou a partir de abril deste ano a fazer o controle da colonização da superbactéria. Foram registrados três casos de colonização – quando a infecção não se desenvolve e o paciente não apresenta sintomas.
Secretaria de Saúde do Paraná tem 24 notificações de pacientes infectados.
Anvisa define nesta sexta diretrizes para registros dos casos pelo país.
Na região Sul, o Paraná é o estado com o maior número de casos, com 21 ocorrências em Londrina e três em Curitiba. O período das notificações não foi informado. Dos três pacientes detectados no Hospital de Clínicas da capital paranaense, um morreu e dois seguem internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital. A Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba informou que o paciente estava debilitado e não é possível assegurar que a superbactéria tenha sido determinante para o óbito.
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Em Santa Catarina, a Gerência de Controle de Infecção Hospitalar contabilizou três casos confirmados desde o fim de 2009, em dois hospitais. Os estabelecimentos foram orientados a relatar laudos de exames laboratoriais com indicativo de resistência acima do normal.
O Rio Grande do Sul não tem nenhuma ocorrência oficial registrada até a manhã desta sexta-feira .
Segundo levantamento feito até esta sexta-feira, o Distrito Federal registrou 187 notificações,163 casos confirmados e 18 mortes pela superbactéria KPC.
O governo do Espírito Santo registrou um caso em julho deste ano. O paciente morreu, mas não em decorrência da superbactéria.
No Ceará, 150 casos suspeitos estão em investigação no Laboratório Central (Lacen) de Fortaleza. Não há mortes relacionadas à superbactéria.
Segundo a assessoria da Secretaria de Estado da Saúde da Bahia, não há notificações oficiais no Estado, mas dois casos suspeitos estão sendo investigados. O órgão emitiu uma nota às unidades de saúde pedindo que registrem possíveis ocorrências e redobrem os cuidados para prevenir infecções.
Rio de Janeiro
A Secretaria estadual de Saúde do Rio informou nesta quarta-feira que não há caso de infecção pela bactéria no estado. A secretaria informou ainda que está seguindo as diretrizes determinadas pelo Ministério da Saúde e Anvisa para evitar possíveis casos de contaminação.
Em julho deste ano, a Clínica São Vicente, na Gávea, na Zona Sul do Rio, registrou um caso de um idoso infectado pela superbactéria KPC. De acordo com a clínica, o paciente se recuperou. Desde então, não foi registrado mais nenhum caso na instituição. Segundo a gerente de enfermagem Jane Biehl, a São Vicente toma algumas providências para que a infecção não se espalhe. “Usamos avental descartável, luvas para tocar no paciente e colocamos uma placa vermelha na porta do quarto do paciente para alertar que a doença é infecciosa”, disse.
Não houve registros no Hospital Cardio Trauma Ipanema; Hospital Pasteur, em Botafogo; Hospital Mario Leoni, em Caxias; e São Lucas, em Copacabana. A Rede D’or informou que por razões estratégicas não irá divulgar nenhuma informação sobre o assunto. O Hospital Samaritano, em Botafogo, informou que não registrou casos de pessoas infectados pela KPC.
Orientação
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou na terça-feira (19) que a Anvisa vai dificultar a venda de antibióticos. Entre as medidas que serão apresentadas está a retenção pelas farmácias da receita médica utilizada na compra do medicamento. Temporão disse ainda que a Anvisa vai reunir 17 especialistas para discutir meios de evitar a propagação da superbactéria.
Segundo o ministro, as medidas, previstas para dezembro, têm por objetivo conter a propagação da superbactéria KPC, que mata, segundo especialistas, pelo menos metade das pessoas contaminadas. De acordo com a Anvisa, as receitas médicas para a compra de antibióticos passarão a ser retidas pelas farmácias para evitar a reutilização do documento sem a orientação de médicos.
Segundo a agência, nesta sexta-feira serão definidos padrões e diretrizes para que os órgãos de saúdes dos municípios e estados façam a notificação compulsória dos casos da superbactéria. Segundo a Anvisa, até o momento as notificações não eram obrigatórias. A medida tem o objetivo de mapear os locais com maior incidência da superbactéria em todo o país.
Como surge uma superbactéria
“Superbactéria” é, na verdade, um termo que vale não só para um organismo, mas para todas as bactérias que desenvolvem resistência a grande parte dos antibióticos. Por causa de mutações genéticas ao longo do tempo, as bactérias passam a produzir enzimas que tornam grupos de micro-organismos comuns, como a Klebsiella e a Escherichia, “blindadas” para muitos medicamentos.
Outro mecanismo para desenvolvimento de superbactérias é a transmissão por plasmídeos. Plasmídeos são fragmentos do DNA que podem ser passados de bactéria a bactéria, mesmo entre espécies diferentes. Uma Klebsiella pode passar a uma Pseudomonas, e esta pode passar a uma terceira. Se o gene estiver incorporado no plasmídeo, ele pode passar de uma bactéria a outra sem a necessidade de reprodução.
No Brasil circulam algumas bactérias multirresistentes, como a SPM-1 (São Paulo metalo-beta-lactamase), além da KPC.
Remédios
Entre os remédios que ficam ineficazes diante de uma superbactéria estão as carbapenemas, normalmente uma das principais opções de tratamento. Mas há remédios como as polimixinas e tigeciclinas que continuam funcionando. Só que é munição para usar em situações de emergência, como surtos de infecção hospitalar. O uso sem critério dessas substâncias acabaria tornando-as inócuas no futuro.
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